“Era o que meu coração pedia”. Com esse pensamento convicto, Michelle Lopes Pereira resolveu devolver seu cartão do programa “Mais Social” e deixar o benefício que tanto a ajudou por muitos anos. Agora ela entende que não precisa mais da ajuda, já que conseguiu se reerguer, montar seu negócio e tem condições de pagar suas contas. “Tenho que abrir espaço e oportunidade para quem precisa”.
Michelle em sua lanchonete na Capital
Moradora de Campo Grande, Michelle passou por uma fase difícil em sua vida, em que só o marido trabalhava fora e ela tinha duas filhas para sustentar. O benefício do Mais Social ajudava a fazer a compra do mês. “Nessa época minhas filhas eram pequenas, não tinha com quem deixar e o dinheiro era curto lá em casa. O benefício me ajudou a alimentar minhas filhas”.
Ela lembra angustiada que o momento mais doloroso era no começo do ano, quando não tinha condições de comprar material, cadernos e até os tênis que suas filhas precisavam para voltar as aulas. “Você sabe que elas precisam, mas não consegue comprar”.
Tudo começou a mudar quando seu irmão, funcionário da JBS, contou a ela que não havia lugares para eles comerem na saída do serviço. “Ele teve a ideia e eu resolvi vender salgado na frente da empresa, levava um isopor na porta ou na beirada da rodovia. Depois consegui comprar uma tendinha, então veio o trailer móvel, até montarmos nossa lanchonete”.
Michelle deu a volta por cima e agora tem seu empreendimento
Dificuldades pelo caminho
Michelle relata que para chegar neste momento teve muitas situações difíceis, inclusive um acidente na rodovia BR-060, em que seu trailer tombou e ela perdeu toda a produção de salgados. O veículo invadiu a pista contrária durante uma grande tempestade, com rajadas de vento. Ela estava com seu marido e filha, mas ninguém se feriu. Os prejuízos foram financeiros.
“Precisei de muita coragem, determinação, persistência. Foi muito difícil, enfrentamos muita coisa para estarmos aqui hoje, mas nunca desistimos. Passamos por coisas horríveis, mas nós persistimos. O objetivo agora é crescer cada vez mais. Trabalho com que amo, faço tudo com amor e sempre tenho um sorriso para receber meus clientes”, destacou.
A lanchonete perto da rodovia, na frente da JBS, tem uma clientela movimentada e fiel. Para isso, trabalha de domingo a domingo. “De segunda a sexta vendo os salgados na lanchonete, mas no sábado e domingo tem que preparar e organizar tudo para semana, porque eu mesmo produzo os salgados e bolos”.
Michelle contou que programa a ajudou nos momentos difíceis
Dar o próximo passo
Com essa mudança de vida, Michelle resolveu devolver o cartão social e deixar o programa do Governo do Estado que a ajudou nos momentos difíceis. “Decidi sair do programa, porque hoje já estou bem. Tenho condições de pagar minhas contas, minhas filhas estão bem encaminhadas, graças a Deus”.
Ela pondera que muitas mães estão passando pelas dificuldades e necessidades que ela já passou. “Me senti no dever de devolver o cartão. Por isso liguei lá na secretaria (Sead), fui até lá e assinei o termo de devolução. Antes disso, muitas pessoas tentaram me convencer do contrário, mas agora tem gente precisando mais do que eu”.
A nova empreendedora é um exemplo do beneficiário (Mais Social) que precisou da ajuda do Governo do Estado, mas agora conseguiu dar a volta por cima e tem condições de pagar suas contas e seguir em frente.
O governador Eduardo Riedel disse que a decisão de Michelle é um exemplo a ser seguido. “O objetivo do Estado é dar condições para as pessoas melhorarem de vida. É crescer sem deixar ninguém para trás. O primeiro passo é a transferência de renda, com programas como o Mais Social e o Conta de Luz Zero, mas o real crescimento é a inclusão das pessoas na oportunidade de ter renda”, disse.
“Quando a Michelle mais precisou, porque no começo estava desempregada e depois ainda não tinha renda suficiente para pagar as contas, ela contou com o Mais Social. Depois, a situação melhorou e ela fez como a Vera e o Odair, de Naviraí, que devolveram os cartões para oportunizar que outras pessoas em situação de vulnerabilidade entrem no programa. Isso revela a consciência dos beneficiários que melhoraram de vida através da conquista da autonomia e independência financeira e que existe um crescimento econômico importante em Mato Grosso do Sul, que gera oportunidades”, acrescentou o governador.
Programa social
O programa Mais Social oferece um “cartão social” para que a família beneficiada possa fazer suas compras do mês, na aquisição de alimentos, produtos de limpeza e higiene, além de gás de cozinha. Neste ano inclusive recebeu um reajuste no valor, chegando a R$ 450 por mês.
Conduzido pela Sead (Secretaria de Estado de Assistência Social e dos Direitos Humanos), o programa é um auxílio financeiro do Governo do Estado e tem por objetivo prestar atendimento às famílias em situação de vulnerabilidade social e insegurança alimentar e nutricional, bem como promover a inclusão social.
“O Mais Social é um suporte crucial para muitos sul-mato-grossenses que estão, momentaneamente, em situação de vulnerabilidade social. E esse é o propósito maior, de fornecer assistência às pessoas que enfrentam dificuldades em circunstâncias desafiadoras, garantindo, por exemplo, alimentação para sua família. É uma alegria vermos situações como essa, na qual uma ex-beneficiária consegue seguir sem o programa. Orientamos e incentivamos aos nossos beneficiários para que esse caminho seja trilhado por todos”, destaca a titular da Sead, Patrícia Elias Cozzolino.
Conferência de Assistência Social reúne mais de 200 pessoas, entre delegados, convidados e observadores. Divulgação/Assecom
Desde ontem (03/), está sendo realizada, no anfiteatro do Bloco 10 da Unigran, a 15ª Conferência Municipal de Assistência Social de Dourados, que reúne mais de 200 participantes, entre delegados, convidados ou observadores.
Com o tema “20 anos do SUAS: construção, proteção social e resistência”, o evento discute políticas públicas e fortalece a participação popular na definição de propostas para a área. Delegados têm direito a voz e voto, enquanto convidados e observadores podem contribuir com debates. A Conferência segue até o início da tarde desta sexta-feira (04).
As discussões da conferência estão organizadas em torno de cinco eixos estratégicos, alinhados aoII Plano Decenal do SUAS, o Sistema Único de Assistência Social. Entre os temas em pauta estão a universalização do acesso aos serviços, com equidade e respeito à diversidade; o aperfeiçoamento da gestão e a valorização dos trabalhadores; a integração de benefícios e serviços para ampliar a inclusão social; o fortalecimento da gestão democrática e da transparência; e a busca por um financiamento sustentável e equitativopara o sistema.
As propostas aprovadas nesta conferência municipal serão consolidadas e enviadas para a etapa estadual, que ocorrerá entre 11 de agosto e 17 de outubro de 2025. O processo participativo, iniciado nas cidades, segue então para a Conferência Nacional em Brasília, de 6 a 9 de dezembro, quando serão estabelecidas as diretrizes que orientarão as políticas do SUAS em todo o país.
O presidente do Conselho Municipal de Assistência Social (CMAS) de Dourados, Ruan Jacob Bianchi Aguiar, afirmou que a conferência reforça a resistência do SUAS diante dos desafios e retrocessos dos últimos dez anos. “Trabalhadores do sistema, tanto do setor governamental quanto das organizações da sociedade civil, seguem na luta pela garantia dos direitos sociais”, diz ele. “Lidamos com vidas humanas e mantemos a esperança de uma transformação social efetiva, capaz de melhorar a qualidade de vida da população”, completou.
A conferência municipal de Dourados foi organizada pelo Conselho Municipal de Assistência Social (CMAS), em parceria com a Secretaria Municipal de Assistência Social, Unigran, OAB 4ª Subseção de Dourados e Itaporã, Centro de Integração do Adolescente “Dom Alberto” (Ceia), Ação Familiar Cristã, Instituto Fuzzyi e Uniasselvi.
Reunião do comitê municipal vai discutir política de atendimento a refugiados e migrantes. Divulgação
A Prefeitura de Dourados, por meio da Secretaria Municipal de Assistência Social (Semas) começa, na segunda-feira, dia 9 de junho, a discutir políticas públicas para aprimorar o atendimento a refugiados, migrantes e apátridas que vivem no município. A primeira reunião ordinária do Comitê Municipal para Refugiados, Migrantes e Apátridas será às 8 horas, no auditório do Creas – Rua João Pedro Gordim, nº 55, Vila Santa Catarina.
Nesta primeira reunião, serão tratadas as demandas iniciais para consolidação do Comitê como a definição da mesa diretora e elaboração do regimento interno, para dar inicio à definição de prioridades para o aprimoramento das políticas públicas locais para o segmento.
O Comitê local foi instituído por meio do Decreto nº 246 de 09 de maio de 2025, sob a coordenação geral da Secretaria de Assistência Social e tem como objetivo principal realizar diagnóstico municipal e estabelecer parâmetros de coleta e análise dos dados para subsidiar elaboração do Plano Municipal de Políticas para Migrantes, Refugiados Apátridas.
Também são objetivos, a articulação da rede intersetorial na promoção de políticas públicas, para atendimento das demandas dos migrantes refugiados, promovendo acesso e acolhida nos serviços ofertados nas áreas de saúde, habitação, educação, assistência social, cultura, esporte, lazer, trabalho e renda; e, ainda, viabilizar a pactuação do Plano Municipal de Políticas para Migrantes, Refugiados Apátridas.
A secretária municipal de Assistência Social, Shirley Flores Zarpelon considera que a criação do Comitê vem ao encontro das metas de certificação do MigraCidades, bem como da Conferência MigraCidades, realizada em outubro do ano passado. “O Comitê é um importante dispositivo para a estruturação e fortalecimento da Política Municipal de Atendimento ao Refugiado, Migrante a Apátrida no nosso município, envolvendo segmentos governamentais e sociedade civil”, afirma.
Ela observa que desde 2019, o crescimento migratório em Dourados, impulsionado pela Operação Acolhida, resultou na chegada de aproximadamente 5.400 venezuelanos ao município. “Hoje, Dourados ocupa o quinto lugar entre os municípios que mais acolheram no país, contudo, há afirmação de que esse número pode ser o dobro, considerando o deslocamento espontâneo, embora não possua um número exato para comprovação”, ressalta, apontando a necessidade da realização de um censo municipal para identificação mais consistente quanto ao número de migrantes residentes em Dourados.
FLUXO MIGRATÓRIO
De acordo com o Observatório de Migrações Internacionais (2024), nos últimos 14 anos, o Brasil vivenciou um expressivo aumento no fluxo migratório, abrangendo ao menos 117 nacionalidades distintas. Impulsionados por crises econômicas, ambientais humanitárias decorrentes de guerras civis em busca de melhores condições sociolaborais, número de solicitações de residência disparou de 345.626, em 2010, para impressionantes 2,3 milhões, em 2024.
Com a crescente diversificação dos fluxos migratórios tem exigido adaptações significativas nas políticas públicas, uma vez que envolve uma ampla gama de indivíduos, incluindo famílias com crianças adolescentes, idosos, pessoas com deficiência aquelas com diferentes identidades de gênero. Diante desse perfil cada vez mais heterogêneo, torna-se essencial que as esferas governamentais federal, estadual e municipal revisem e aprimorem os mecanismos de integração, inclusão social garantia de direitos.
MIGRACIDADES
A Plataforma MigraCidades foi criada para contribuir com a construção e gestão de políticas migratórias de forma qualificada e planejada e, em outubro do ano passado, realizou encontro virtual com representantes de 15 governos estaduais e municipais. No encontro foram debatidos o acesso à saúde, à educação, à assistência social e proteção social e ao mercado de trabalho das pessoas migrantes, além de acesso e acolhimento nos serviços de proteção e combate a violências baseadas em questões de gênero, raça e sexualidade.
A iniciativa é fruto de uma parceria entre Agência da ONU para as Migrações (OIM) e Universidade Federal do Rio Grande do Sul, com apoio da Escola Nacional de Administração Pública.
Prefeito Marçal Filho esteve na Casa da Acolhida na manhã mais fria do ano em Dourados – Foto: Assecom
Na manhã mais fria do ano, registrada nesta quinta-feira (29), o prefeito Marçal Filho esteve na Casa da Acolhida Elena Efigênia Pereira, em Dourados, que atualmente funciona com capacidade máxima para proteger do frio intenso aqueles que estão em situação de rua. O espaço abriga 37 pessoas, embora a estrutura tenha sido projetada para receber até 36 acolhidos. “Também estamos percorrendo as ruas durante a noite para entregar cobertores às pessoas que se recusam ao recolhimento à Casa da Acolhida, mas o trabalho realizado neste espaço é indispensável para a proteção daqueles que estão vulneráveis”, enfatizou o prefeito.
Localizada na Rua Jandaia, nº 1765, no Jardim Vista Alegre, região sul da cidade, a Casa da Acolhida é uma instituição pública municipal de acolhimento temporário voltada a adultos e famílias em situação de vulnerabilidade social. Crianças menores de idade só são aceitas acompanhadas pelos pais. O local está sob coordenação da Secretaria Municipal de Assistência Social, que não tem medido esforços para levar proteção aos desassistidos.
Durante a passagem pelo local, Marçal conversou com os acolhidos e elogiou o trabalho humanizado da equipe. Segundo ele, mesmo com o frio intenso, a movimentação na unidade segue constante, com a chegada e saída diária de duas a três pessoas. Caso necessário, a Prefeitura está preparada para criar novas vagas e atender à alta demanda nesse período de frio.
A coordenadora da instituição, Marli Maria Morgenrotti, informou que a maioria dos abrigados é composta por homens vindos de outros estados, principalmente do Paraná e São Paulo. Atualmente, há também uma mulher com três filhos na unidade. A Casa oferece acolhimento por períodos que variam de três dias a até seis meses, dependendo da situação de cada pessoa. “O perfil predominante é de pessoas que já romperam vínculos familiares”, explicou. “Aqui, além do abrigo, recebem refeições diárias como café da manhã, almoço, lanche da tarde e jantar”, ressaltou Marli.
Ela destacou ainda que muitos dos acolhidos desejam fixar residência em Dourados. Nesse sentido, a equipe trabalha para garantir a emissão de documentos, inserção no mercado de trabalho e encaminhamentos sociais, promovendo autonomia para que essas pessoas possam recomeçar suas vidas e conquistar independência.
A Casa da Acolhida tem como missão garantir proteção integral aos usuários, respeitando sua dignidade, promovendo o resgate de vínculos familiares e comunitários e a construção de novos projetos de vida. Além disso, a instituição busca inserir os acolhidos nas políticas públicas municipais, estaduais e federais, oferecendo suporte para sua reintegração social.