Diversas unidades de saúde em Campo Grande têm apresentado falta de medicamentos, de acordo com usuários do SUS (Sistema Única de Saúde), que relatam ao Campo Grande News o déficit nos estoques de vários remédios, como dipirona ou insumos utilizados por pessoas com diabetes.
Vários dos fármacos estão há meses em falta, o que prejudica o tratamento de diferentes grupos, e algumas das unidades são a UBS (Unidade Básica de Saúde) da Vila Nasser, CEM (Centro de Especialidades Médicas), UPA (Unidade de Pronto Atendimento) do Coronel Antonino, UBS 26 de Agosto e CRS (Centro Regional de Saúde) do Tiradentes.
A dona de casa Sofia Paiva dos Santos, de 52 anos, precisa fazer tratamento de hipotireoidismo, que exige o remédio levoid, mas relata que está em falta desde novembro de 2022. “Há meses vamos ao CEM e a prefeitura diz que não mandou o remédio. Acho que deveria ter uma prioridade maior para o gasto com assistência da saúde, da população. Tinha de olhar mais com carinho para essa situação. A gente consegue comprar, mas e quem não consegue?”, questiona.
“Até estava faltando médicos. Tem dia que não tem nenhum, às vezes o que tem está de atestado e há os que entram e saem de imediato, ficam um mês no trabalho e saem. Ou você precisa fazer um exame e não tem médico da área.”
Ela narra que já soube de relatos de falta de dipirona no posto de saúde da Vila Nasser, bem como de ibuprofeno, dexametasona, entre outros. Até mesmo a insulina para pacientes com diabetes está em falta, segundo ela. “Há um déficit muito grande na rede de saúde. Está um descaso.”.
“Perguntei para a moça porque não haveria insulina e ela disse que ia comprar, mas saiu rápido. Pedem uma quantidade, mas mandam outra. Tem insulina de caneta, mas não pode ser dada para pessoas que têm diabetes, com menos de uma certa idade, porque ela é para priorizar para idosos. Mas se há pessoas doentes, deveriam dar, e as outras pessoas?”.
Necessidade – Usuários do SUS que estavam nesta quarta-feira (8) no CEM, no Bairro São Francisco, relataram falta de diversos remédios. Apesar de não ter precisado de medicamentos quando foi ao centro, a funcionária em um frigorífico em Anastácio Lélis Marques Alves dos Santos, de 48 anos, relata que a filha aguardava exame em endocrinologista desde maio de 2022, mas como a médica estava afastada por questões de saúde, não conseguiu realizar o procedimento e terá de reagendar.
A aposentada Ramona Cordeiro Souza, de 65 anos, relata que medicamentos contra hipotireoidismo e diabetes estão em falta. Ela menciona que há dificuldade para encontrar diosmina, puran, glifage e injeções que custam cerca de R$ 400, se forem comprados na rede particular. “Meu marido toma uma injeção a cada 90 dias, mas não temos condições. Se não toma, a doença vai aumentando”.
“Na Casa da Saúde, é uma burocracia para te darem os remédios. Nas unidades de saúde, também estão em falta”, diz ela, que mora mais perto da UBS (Unidade Básica de Saúde) do Parque do Sol. “Lá tem farmácia, mas não é 24 horas. Muitas vezes falta losartana e propranolol, por exemplo”.
Estoque – Procurada, a Prefeitura de Campo Grande ressalta que, atualmente, a Rede Municipal de Saúde encontra-se com mais de 85% do estoque de medicamentos abastecido. As “faltas pontuais” ocorrem por conta da indisponibilidade do produto ou matéria-prima no mercado, estagnação no processo de compra devido a pedidos de realinhamento de preço, bem como o não cumprimento do prazo de entrega por parte do fornecedor.
Quando há descumprimento dos contratos, a Sesau (Secretaria Municipal de Saúde) garante que, inclusive, chegou a entrar com ações judiciais contra estas empresas no intuito de garantir o abastecimento e, consequentemente, evitar que haja uma descontinuidade no tratamento e assistência da população.
“Cabe esclarecer ainda que o abastecimento de medicamentos no município tem sido regular desde 2017 a partir da reorganização dos processos de compras e empenho da gestão. No ano anterior, 2016, o estoque de medicamentos do município estava abaixo da chamada reserva técnica, com menos de 20% dos itens disponíveis”, diz a pasta.
Déficit – Em 2022, o CRF (Conselho Regional de Farmácia) de Mato Grosso do Sul chegou a recomendar a manipulação de medicamentos e receitas em estabelecimentos credenciados, como forma de conter o desabastecimento de medicamentos essenciais ao cuidado à saúde, em todos os níveis de atenção.
Nota técnica publicada pelo órgão, aplicada também pelo Conselho Federal de Farmácia, orienta pela “manipulação de fármacos ou mesmo a indicação de necessidade de retorno ao médico ou dentista prescritor para adequação terapêutica em função da contingência atual”.
Conforme a entidade, o Estado e outras unidades federativas do País têm laboratórios de manipulação de medicamentos e farmacêuticos altamente capacitados atuantes na área magistral, que podem contribuir com o processo de tratamento dos pacientes.
No início de julho do ano passado, a Sesau afirmou que a Capital possuía cerca de 90% do estoque de medicamentos da rede municipal de saúde abastecido naquele momento.
(Fonte: CampoGrandeNews. Foto: Divulgação)