Não é covid-19, mas a ocupação de leitos de terapia intensiva em Campo Grande se aproxima de 100%, com apenas sete vagas restantes para toda a Capital nesta sexta-feira. De 95 vagas, 88 estão ocupadas.
Dados de painel da SES (Secretaria de Estado de Saúde) mostram lotação máxima há pelo menos uma semana em dois hospitais: Universitário e Maternidade Cândido Mariano. O mesmo ocorre hoje, em ambos.
Dengue e síndrome respiratória são as principais causas dessa superlotação, sendo que as crianças são as mais prejudicadas. Isso porque os leitos intensivos para quem tem entre 1 e 12 anos são poucos, totalizando apenas 23 para atender pacientes do SUS (Sistema Único de Saúde).
O presidente do Sindicato dos Médicos de Campo Grande, Marcelo Santana afirma que o município vive uma situação crítica, com aumento expressivo de casos de Srag (Síndrome Respiratória Aguda Grave) nas crianças devido às mutações que agravaram o vírus sincicial, principal causador da síndrome neste momento.
“Em janeiro, quando fizemos vistoria nas UPAs, já identificamos a falta de algumas medicações. Agora, com a onda do vírus sincicial respiratório, os problemas se ampliaram. A situação é crítica”, afirma. Segundo ele, o vírus está mais violento e agressivo. Além disso, lembrou que Campo Grande enfrenta a dengue, o que superlota ainda mais as unidades de saúde, sejam elas públicas ou não.
Nas últimas semanas, dois alertas foram emitidos pela Sesau (Secretaria Municipal de Saúde) sobre Srag e sobre dengue. Em relação à síndrome, o alerta epidemiológico falava do aumento no número de internações de crianças entre 0 e 9 anos de idade por causa da doença. O documento cita 249 casos entre os dias 12 de fevereiro e 18 de março. O alerta foi publicado no dia 22 e serve para nortear as ações da rede pública de saúde quanto ao atendimento das crianças.
De todos os 249 casos do período, 32 tiveram amostras coletadas para exame laboratorial e em 53,1% delas, o causador da Srag era o vírus sincicial e em 40,3% o rinovírus. Covid e gripe representaram 1% dos casos registrados nas amostras, conforme o Cievs (Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde).
Em relação à dengue, comunicado do dia 28 de março alertava para o aumento de casos. “Observa-se que a partir do mês de março de 2022 o número de casos ultrapassou o limiar epidêmico. Em 2023, já se observa o limiar epidêmico ultrapassado a partir do mês de janeiro”, cita a publicação.
UPAs – Nas Unidades de Pronto Atendimento que recebem crianças em Campo Grande (Universitário e Coronel Antonino) há apenas 10 leitos de observação e estavam lotadas nesta tarde, mais uma vez. Duas mães ouvidas pelo Campo Grande News reclamaram da mesma situação: idas e vindas com os filhos e sempre a mesma medicação receitada.
“Ele está com gripe desde quinta-feira passada. É a terceira vez que venho aqui com ele e só passam dipirona”, disse Evelyn Chaparro, 22 anos, que estava com o filho de 3 anos na UPA Universitário. “Ele estava queimando de febre de novo e tive que vir. Não fizeram um exame nele, um raio-x”, lamentou contando que chegou ao local às 7h e saiu às 15h.
Outra mãe, Joyce Carneiro, de 26 anos, estava na mesma UPA com a filha de 8 anos. Ela também passou quase oito horas por lá, entre chegar, ser atendida, e sair. “Passei toda a noite de ontem na UPA Moreninhas e não fui atendida. Aqui, só passaram dipirona e não pediram nenhum exame”, contou.
Enquanto a reportagem esteve no local esta tarde, cerca de 15 crianças junto aos seus responsáveis esperavam atendimento na recepção. Para falar sobre a situação, o Campo Grande News entrou em contato com a prefeitura, que não respondeu aos questionamentos até o fechamento deste material.
(Fonte: CampoGrandeNews. Foto: Divulgação)