Pesquisadores do Serviço Geológico do Brasil (SGB) sugeriram nesta terça-feira (24) o uso da água subterrânea como uma possível alternativa ao agravamento do risco hídrico nas regiões Sudeste e Centro-Oeste. Um levantamento sobre o tema divulgado hoje abrangeu as estações hidro meteorológicas operadas nas bacias dos rios Grande, Paranaíba e Tocantins, que representam 80,86% da capacidade de armazenamento de energia do subsistema das duas regiões.
A previsão do SGB é que este ano hidrológico fique entre os anos mais secos da série histórica em diversas localidades em comparação com os anos hidrológicos anteriores, mas por causa da estiagem deste ano estar associada aos déficits dos anos anteriores é esperado um agravamento do risco hídrico.
O uso da água subterrânea, que os pesquisadores sugeriram como alternativa, demanda baixos investimentos e tem baixo impacto ambiental. A Rede Integrada de Monitoramento das Águas Subterrâneas (Rimas) tem 72 poços na Região Sudeste e 36 na Região Centro-Oeste, com 108 perfurações na área afetada pela crise hídrica.
“A disponibilidade em qualquer tempo, somada à geralmente boa qualidade natural, boa proteção à contaminação, baixo custo de produção e grande flexibilidade na implantação dos sistemas de captação, tornam essas águas subterrâneas um recurso estratégico”, disse Alice de Castilho, diretora de Hidrologia e Gestão Territorial do SGB.
Os depósitos de água subterrânea ocorrem em áreas de bacias sedimentares, como a do Rio Paraná, que abarca o Aquífero Guarani. As áreas afetadas pela crise hídrica têm 17 bacias sedimentares, mas a maioria dessas bacias não abrangem regiões metropolitanas. Espírito Santo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Distrito Federal não são ricos em águas subterrâneas, porque não têm área em bacias sedimentares, entretanto, metade da população de Brasília (DF) é abastecida dessa forma.
O SGB calculou a disponibilidade hídrica em cada um dos 2.533 municípios existentes nos estados afetados pela seca. Considerando um valor de 100 litros por habitante por dia, qualificado como elevado, os resultados foram animadores, de acordo com o pesquisador João Diniz.
Chuvas abaixo da média
Segundo o levantamento, o Rio Paraguai apresentou, os menores níveis de água na altura do município de Cáceres (MT), considerando toda sua série histórica de dados, que teve início em 1965.
Na bacia do Rio Tocantins, as vazões do mês de julho de 2021 ficaram abaixo da média histórica. As regiões mais críticas foram Travessão, no Rio Vermelho, no município de Matrinchã (GO), e Barreira da Cruz, no Rio Javaés, no município de Pium (TO).
De acordo com o estudo, a precipitação no ano hidrológico atual, que vai de outubro a setembro, está acima da média apenas na área de drenagem da Usina Hidrelétrica de Serra da Mesa, na Bacia do Alto Tocantins, em Goiás.
No Sudeste, nas bacias dos rios São Francisco, Jequitinhonha, Mucuri e São Mateus, Doce, Itapemirim, Itabapoana, Paraíba do Sul, Grande e Paranaíba, as vazões preocupam. Dos 51 pontos monitorados, 20 atingiram no mês de julho a vazão mínima de referência.
De acordo com o SGB, a estiagem deste ano vem gerando problemas de armazenamento nos reservatórios, geração de energia, navegação e ameaças ao abastecimento público de água.
As chuvas vêm ocorrendo em quantidade cerca de 7% inferior à média nas áreas de drenagem da Serra da Mesa e Emborcação, de acordo com o SGB. Na Usina Hidrelétrica Nova Ponte, no Rio Araguari, em Minas Gerais, a precipitação está mais de 20% inferior à média. “Por praticamente toda a extensão das bacias analisadas, o total acumulado de outubro a junho de 2021 foi menor do que a média histórica”, atesta o documento.
Em Goiás, em Tocantins e no leste de Mato Grosso, nos rios Manuel Alves, Araguaia, Caiapó, Claro, a precipitação acumulada é a mais baixa de toda a série.
(Fonte: Agência Brasil. Fotos: Reprodução)