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Indígenas de MS relatam fome, falta de água potável e pedido de socorro negado

Assim como os yanomamis em Roraima, população indígena local diz sofrer com falta de comida e descaso

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Invisíveis e esquecidos. Palavras usadas pelos indígenas de Mato Grosso do Sul para definir como se sentem vivendo no Estado que concentra a segunda maior população dos povos originários do país. O trágico cenário dos yanomamis, em Roraima, escancarou para o mundo como as gerações destes brasileiros nativos são tratadas pelo poder público.

Apesar de Mato Grosso do Sul ter um agronegócio pujante, capaz de gerar R$ 19 bilhões do PIB (Produto Interno Bruto), os indígenas convivem com a fome e falta de água. Nas áreas de retomada a situação é crítica, com famílias morando embaixo de lonas, sem água potável, sem energia e com direitos constitucionais negados. O caso já ganhou repercussão nacional, após campanha do ex-banqueiro que esteve na comunidade, em 2021.

Bem perto de Dourados, cerca de 2 Km da cidade, cinco áreas de retomada surgiram ao entorno das aldeias Bororó e Jaguapiru. Ao todo, cerca de 200 famílias da etnia guarani kaiowá sobrevivem em condições de extrema pobreza. O número de indígenas nessas áreas aumentou nos últimos meses.

O líder da comunidade, Laurentino Garcia, disse que ficou muito triste e tocado com a realidade dos yanomamis, mas também revela que no território sul-mato-grossense, a situação também é muito preocupante.

“Aqui, a minoria recebe cesta do programa da Funai (Fundação Nacional dos Povos Indígenas). Eles não liberaram o cadastro, por se tratar de uma área de retomada. Mas eu acho que é um direito receber, porque tem criança, idosos, gestante passando fome. Ninguém morreu ainda por desnutrição, mas não temos água potável. É um poço manual para todo mundo”, afirma.

Ele já pediu ajuda para o Ministério Público Estadual, a Funai, o DSEI (Distritos Sanitários Especiais Indígenas), secretaria municipal dos povos indígenas, mas sempre foi negado. “Não temos agente de saúde. Já mandei pedido para todos os órgãos públicos que devem nos ajudar. Não podemos contar muito com os órgãos federais para atender as famílias. Queríamos ao menos a visita de um médico, uma vez por semana”, acrescentou Laurentino.

A indígena Joana Sarato, 63 anos, mora na retomada Taquaju, a 10 km de Guia Lopes da Laguna, revela situação mais precária ainda. Vale lembrar que milhares de pessoas do mundo inteiro passam pelo local, por se tratar do caminho para um dos destinos de ecoturismo mais conhecidos do país, Bonito.

“Tem dia que tem café, tem dia que não tem nem o pó, chá ou açúcar. Minha geladeira só tem água e um feijãozinho que tirei da lavoura. Só como carne se a gente consegue bicho do mato. Como tamanduá, cateto, jacaré. Sei que é errado, mas é o único jeito que tem. Água do açude, o fazendeiro não deixa a gente pegar, tem que trazer e coar pra tirar os girinos. A água do poço é suja, com terra”, revela.

No local, apenas quatro famílias resistem com dificuldades. “Criança não espera fome. Eu vou na cidade, porque ficamos dias sem comer, às vezes meses. Mas eles falam que não podem ajudar a gente. Fico com vergonha e volto pra trás. Aí dou mandioca frita com sal pras crianças comerem”, afirma.

Dona Joana disse que chegou a ir até Brasília (DF) pedir ajudar duas vezes. “Fui tentar ajuda para não sofrer mais desse jeito, para não fazer coisa feia. Eles jogam para o município. Mas o prefeito veio duas vezes aqui e disse que a aldeia não foi reconhecida ainda, por isso não pode ajudar a gente. Ai larguei mão de ir atrás dele. Parece que ele tem boca suja com nós”.

Ela sonha com água encanada, um chuveiro, um vaso no banheiro, o mínimo para viver com dignidade. Mas até para atendimento médico, a guarani kaiowá diz que enfreta dificuldades. “Tem que pegar ônibus daqui e ir lá na cidade consultar. Na volta tem que ficar pedindo carona mais de hora pra trazer de volta. Sorte que índio antigo sabe tudo de remédio. A gente fica tomando remédio de pau, mas já acabou a casca da árvore de tanto que já usamos. Aqui pega dor de estômago, dor de barriga, febre, dor de cabeça, diarreia. Para não acontecer isso, já tem reservado nossa dipirona”.

A reportagem entrou em contato com assessoria de imprensa da Funai e do DISEI e até o fechamento desta matéria não teve um retorno. Já o prefeito de Guia Lopes da Laguna, Jair Scapini (PSDB) não atendeu a ligação. O espaço segue aberto.

Cozinha comunitária – O Comitê de Luta de Dourados tem auxiliado os indígenas da retomada com a questão da alimentação. Neste domingo (22) foi inaugurada a cozinha comunitária da comunidade, uma forma de garantir ao menos uma refeição para as famílias que moram em situação insalubre.

Um dos coordenadores do grupo, Marcelo Batarce, 49 anos, é professor universitário e explica que a ideia surgiu após constatar a falta do mínimo de assistência social.

Ele explica que as retomadas são reflexo da grande quantidade de indígenas que não cabem mais nas aldeias. “Por isso eles buscam mais áreas. A Jaguapiru e Bororó são anexas. É a aldeia mais populosa do Brasil. Onde tem mais indígenas por metro quadrado no país. Mas você entra na Jaguapiru e parece uma favela. É uma vila, com uma casa do lado da outra, tem lote sendo vendido, já tem não indígenas”, conta.

Com a relevância da causa e a combatividade dos indígenas, Marcelo mergulhou na realidade desconhecida da maioria da população. “A situação deles é tão crítica, que eles não têm praticamente mais nada a perder. Eles estão em uma situação tão vulnerável, que eles participam mais”.

A retomada fica ao lado da rodovia que liga a cidade à universidade. “A invisibilidade dessas pessoas para sociedade é tamanha, que eles moram na margem da BR, onde passam estudantes e inclusive professores que nem sabe que ali moram índios. Passam todo dia ali e não enxergam. São pastos, com moradias de basicamente lona e resto de construção”, acrescenta.

Ainda segundo o professor universitário, as famílias andam muito para conseguir pegar água do único poço que abastece o grupo, o banheiro é um buraco na terra, não há eletricidade e a comida é feita em fogo de chão.

“A gente presenciou várias vezes, gente sem comida nenhuma. Por isso, eles saem da aldeia e vão para a cidade pedir. Se não tivessem ao lado da cidade, com certeza eles estariam na mesma situação dos yanomamis. Quando tem carne, eles chamam de puchero. Que é o osso com um pouco de carne. Eles vivem de cesta básica, só que na retomada nem todo mundo recebe cesta básica, que é um quebra galho, e não tem data certa de enviar cesta”, acrescenta.

(Fonte: CampoGrandeNews. Foto: Divulgação)

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Escolas, postos de saúde e espaços públicos recebem mutirão de limpeza

As ações prosseguem nos próximos dias.

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A Prefeitura de Dourados está realizando um mutirão de limpeza em diversos pontos da cidade, com ênfase nas escolas municipais, diante da proximidade da volta às aulas, e também em unidades de saúde e equipamentos públicos. Nesta primeira quinzena de janeiro, atendendo determinação do prefeito Marçal Filho, as equipes da Semsur (Secretaria de Serviços Urbanos) atuaram de forma intensa com roçada, poda e/ou supressão de árvores, pintura e outros serviços que têm impactado em asseio e beleza no município. As ações prosseguem nos próximos dias.

Nesta quinta-feira (16), equipes da Semsur concentram os trabalhos na Escola Municipal Professora Efantina de Quadros, Ceim (Centro de Educação Municipal Infantil) Ivo Benedito, no distrito de Itahum, Terminal Rodoviário Renato Lemes Soares, Pavilhão de Eventos Dom Teodardo Leitz, Parque Rego D’Água, Praça do Transbordo, Ceper do 3º Plano, e nas avenidas Marcelino Pires e Weimar Gonçalves Torres.

Já foram atendidas as escolas municipais Frei Eucário Schmitt,  Armando Campos Belo, Aurora Pedroso de Camargo, Professora Maria da Conceição Angélica e Sócrates Câmara. A UPA (Unidade de Pronto Atendimento), o estádio Frédis Saldivar (Douradão), o Centro de Convivência do Idoso “Andre´s Chamorro” , o Cras (Centro de Referência da Assistência Social) da Vila Cachoeirinha, a Secretaria Municipal de Saúde e Prefeitura também receberam os serviços. Além desses locais, o quadrilátero central entre as ruas Monte Alegre e Cuiabá e Toshinobu Katayama e Albino Torraca contou com as intervenções.

O prefeito Marçal Filho ressalta que os serviços são uma necessidade eminente no município e além de levarem mais asseio e beleza aos locais, geram impacto positivo em outros pontos, como saúde pública, por exemplo. “Encontramos o centro da cidade com o mato muito alto, condições críticas de limpeza, o que também era notório em espaços públicos”, ressalta Marçal Filho. “Logo no dia 2 começamos os serviços que estão mudando o aspecto da nossa cidade e ainda ajudam a prevenir infestação de insetos, mosquito da dengue e animais peçonhentos”, destaca o prefeito.

As ações continuarão de forma intensificada na área urbana e na área rural do município levando os serviços de limpeza, poda de árvores, pintura, conforme as necessidades de cada local.

(Com assessoria. Fotos: Divulgação)

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Marçal consegue reverter no TCE perda de 3 mil vagas na Educação

Marçal Filho destaca os esforços junto ao Tribunal de Contas do Estado para reverter a perda das 3 mil vagas na Educação em Dourados

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Em tempo recorde, com apenas 9 dias úteis de trabalho à frente da Prefeitura de Dourados, o prefeito Marçal Filho e sua equipe jurídica conseguiram reverter no Tribunal de Contas do Estado (TCE) a perda de 3 mil vagas na educação infantil em razão de erros grosseiros cometidos pela gestão anterior na contratação de escolas conveniadas. A irresponsabilidade do governo passado foi atestada pela Divisão de Fiscalização de Educação do TCE, que apontou erros graves, como a omissão em relação ao formato de distribuição de merenda escolar, uniformes, material didático e pedagógico para as crianças.

O Tribunal de Contas do Estado apontou ainda que o contrato da governo passado não previa a avaliação da aptidão das escolas para a prestação de serviços de educação infantil e ainda criava notas para classificá-las com o objetivo de excluir as escolas que estiverem acima do número de vagas solicitadas. Ainda segundo o TCE, o contrato barrado pela Divisão de Contas do Estado eliminava a possibilidade de entrada de novas escolas interessadas em firmar convênio com o município, comprometendo a isonomia na contratação das instituições.

Após tomar posse, em 1 de janeiro, o prefeito Marçal Filho foi informado que o Tribunal de Contas do Estado havia concedido liminar ao Ministério Público de Contas no dia 27 de dezembro de 2024 suspendendo a contração das 3 mil vagas juntos às escolas e creches particulares de Dourados. “Essa notícia caiu como uma bomba para nosso governo e, também, para os pais das crianças já que é público e notório que a Rede Municipal de Ensino encerrou 2024 com um déficit de mais de 1.000 vagas na educação infantil e caso se confirmasse a perda dessas 3.000 vagas conveniadas a situação ficaria insustentável”, enfatiza Marçal Filho.

Uma das primeiras medidas adotadas pelo prefeito na primeira semana de governo foi bater às portas do Tribunal de Contas do Estado, em Campo Grande, acompanhado pela equipe jurídica do município para revogar a liminar que suspendeu o processo de contratação das 3.000 vagas. “Demonstramos no processo do TCE que os problemas criados no contrato pelo governo passado seriam corrigidos pelo nosso governo e que a manutenção da liminar iria causar um prejuízo gigantesco para a Educação em Dourados, já que o município não teria como criar milhares de vagas no espaço de 30 dias”, explica Marçal.

Para corrigir os problemas no contrato do governo anterior, o prefeito determinou a adoção de critérios transparentes para o envio de merenda escolar às entidades filantrópicas que forem contratadas, enquanto as escolas não filantrópicas ficariam responsáveis pelo fornecimento da merenda por conta própria. O prefeito também determinou que a Secretaria Municipal de Educação assumisse a responsabilidade pelo fornecimento dos kits de material escolar e que as escolas contratadas pelo município ficariam responsáveis pelo fornecimento dos uniformes escolares.

Ao receber a manifestação da Prefeitura de Dourados no processo que havia barrado liminarmente a contratação das 3.000 vagas, o conselheiro Flávio Kayatt decidiu pela revogação da liminar e determinou a exclusão do edital da previsão de classificação com o objetivo de excluir instituições da contratação, bem como pela manutenção do credenciamento de novas escolas e creches particulares durante todo o ano letivo de 2025.

O prefeito Marçal Filho recebeu com entusiasmo a decisão do Tribunal de Contas do Estado ao mesmo tempo em que lamenta a falta de planejamento das gestões anteriores que não investiram na construção de novas escolas municipais e, muito menos, em creches. “Estamos mobilizando esforços para receber o maior número possível de crianças neste ano letivo, mas infelizmente não teremos como garantir vagas para todas elas”, alerta. “No Censo de 2010 Dourados tinha 173.647 habitantes, chegou a 243.367 habitantes no Censo 2022 e no final do ano passado o IBGE apontou uma população de mais de 261 mil pessoas, ou seja, a cidade ganhou 17.273 habitantes em apenas 2 anos e quantas escolas foram construídas nesse período?”, questiona o prefeito.

(Com assessoria. Foto: Divulgação)

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Prefeitura de Dourados convoca empresas do transporte escolar para vistoria dos veículos

Para a Agetran conceder a emissão do alvará que autoriza a atividade de transporte de alunos em Dourados, os proprietários das vans devem ter registro no Cadastro Econômico do município.

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A Prefeitura de Dourados, por meio da Agência Municipal de Transporte e Trânsito (Agetran), publicou portaria convocando as empresas proprietárias de Vans utilizadas no transporte de estudantes para a vistoria nos veículos. A fiscalização inicia na segunda-feira, dia 20, e se estende até o dia 31 de janeiro, sempre das 7h30 às 12h30.

A Agetran informa que a vistoria é realizada pelo Departamento Estadual de Trânsito (Detran) e suas autorizadas. Após essa etapa, o documento emitido deve ser apresentado na Escola Pública de Trânsito (EPT), localizada à Rua Vivaldi de Oliveira, número 5795, Jardim Márcia.

Para a Agetran conceder a emissão do alvará que autoriza a atividade de transporte de alunos em Dourados, os proprietários das vans devem ter registro no Cadastro Econômico do município.
Na vistoria, deve ser entregue apresentado o documento do veículo, cópia da vistoria do Detran, documentos do proprietário, motorista e monitor, certificado do curso de transporte escolar dos motoristas e monitores, certidões negativas civil e criminal do proprietário, motorista e monitor e seguro de passageiros.

O não comparecimento no prazo determinado poderá acarretar sanções administrativas na Lei Municipal n° 2174, de 31 de março de 1998 e Decreto Municipal n° 434, de 17 de agosto de 2001. A não realização da vistoria será considerada serviço clandestino, que é ilegal. Em caso de dúvidas e outras informações, os interessados podem entrar em contato no telefone 2222-1204.

(Com assessoria. Foto: Divulgação)

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