“Tem mais ou menos um mês que eles dizem que está pra chegar uma nova droga aí, mas que até então não tinha chegado, dizem que é bem mais forte que as usadas, mas não sei como ela é”, diz Francielle Fernandes, dona de uma barraca de caldo de cana na Praça Aquidauana, em Campo Grande.
A praça é um dos locais com maior fluxo de usuários e vendedores de drogas da Capital. Ela releva à reportagem que já ouviu alguns usuários comentando sobre um novo entorpecente.
O comércio do caldo de cana é uma atividade de família herdada por Francielle após a morte do pai. Conforme a dona do estabelecimento, o patriarca comandou o negócio há 25 anos. O convívio com os usuários é presente no local, mas Francielle ressaltou que não tem problemas. “Aqui tem o tempo inteiro, minha convivência aqui é tranquila, eles respeitam não invadem meu espaço. Então acabo escutando muitas coisas, tanto de drogas quanto de outras coisas”, disse.
Apesar do prenúncio da chegada de uma nova droga sintética Em Campo Grande, conhecida por múltiplos nomes como: K2, K4, K9 ou Spice-Space, o que impera em Campo Grande, principalmente na região central, ainda é a pasta base, substância derivada da maceração das folhas de cocaína.
A composição da droga contém desde vidro moído a solventes como, por exemplo, querosene, parafina e éter. O entorpecente é o mais procurado pelos usuários na área central da cidade, tanto pelo baixo preço, quanto pelo efeito avassalador causado pela substância.
Já a nova droga Spice-Space é um canabinóide sintético que ficou conhecido em São Paulo e já é denominado pelos próprios dependentes químicos como “o crack do futuro”. De acordo com usuário, o nível de dependência se compara ao do crack, uma das drogas mais viciantes encontradas no Brasil. “Você fuma você fica viciado”. disse um deles.
Usuários – O Campo Grande News entrevistou alguns dependentes químicos em vários pontos da região central da cidade para averiguar se a nova droga Spice-Space já está circulando entre os usuários. Todos os entrevistados alegaram desconhecer, mas demonstraram interesse em saber onde encontrar a substância. “Não sei, mas quero experimentar”, comenta um usuário como se estivesse falando de um produto qualquer.
Kauanny Motta, tem 30 anos e é dependente química há dois. Ela contou que sua vida virou de ponta cabeça após um grande trauma em uma relação amorosa. Ela já foi maquiadora, cabeleireira e artista trans. Representou Mato Grosso do Sul na 36º edição do Miss Brasil Gay, em 2013.
Além disso, em 2009 ela concorreu ao concurso Miss Mato Grosso do Sul, na época, ficou em terceiro lugar. Em 2001, representou Três Lagoas no mesmo concurso; ganhou o primeiro lugar e o melhor traje da noite.
Hoje ela se envergonha da situação e se recusa a ser fotografada. “Eu uso tudo, uso óleo (pasta base) tudo o que parece pra mim, quanto mais droga para acabar com meu sofrimento, melhor. A maioria das pessoas que estão aqui, que eu conheço, tem histórias lindas, são profissionais de muitas coisas, mas as decepção, amorosas, mentiras entre outras coisas fizeram eles se tornarem usuários”, afirmou.
Prejuízos – O problema com os usuários de drogas na região central de Campo Grande se estende há anos. Antes da reforma, a concentração se limitava às redondezas da antiga rodoviária, hoje atinge várias regiões da Capital.
Na rua Dom Aquino, no bairro Amambai, o que antes era a Escola Estadual Zamenhof, hoje não passa de uma estrutura vazia e totalmente depredada. Usuários de drogas entraram no local e levaram fios, caixas de tomadas, disjuntores, janelas e até os mármores das pias. Nada foi poupado. Ao lado, está outra Escola, chamada Casa da Criança, que também está destruída e é habitada pelos dependentes químicos. Essa pertencente ao Hospital Nosso Lar.
Além do cenário de destruição, no local há excrementos humanos em todos os cômodos de ambas escolas, marcas de fezes nas paredes e o forro do telhado totalmente descoberto. Na Escola Casa da Criança há até documentos de matrícula das crianças desligadas em 2016, com nome, número e foto.
Segundo vizinhos da creche infantil, encontrar dependentes químicos no quintal de casa é um hábito rotineiro.
Combate – O delegado adjunto da Denar (Delegacia Especializada de Repressão ao Narcotráfico), Roberto Guimarães, explicou que o departamento recebe inúmeras denúncias de venda de drogas na região central. Entre as substâncias mais apreendidas nas ruas estão a maconha e derivações de cocaína, como a pasta-base.
“Nós fazemos fronteira com dois países que fabricam maconha e cocaína. O Estado é um corredor dessas drogas. A maioria das apreensões está relacionada a esses entorpecentes. Recebemos muita demanda da região central pela grande quantidade de usuários e vendedores. Prendemos um e no dia seguinte tem dois. Existe essa demanda desse tráfico de formiguinha. É como se dizem, é enxugar gelo, mas se você não enxugar transborda, então prefiro enxugar. Essa é a nossa filosofia”, pontuou.
De acordo com o delegado, todos os dias, tanto a pela Polícia Civil, quanto Militar dão flagrante em tráfico de drogas na capital. “Existem algumas áreas mais usadas por essas pessoas como a antiga rodoviária, a área central, alguns bairros mais populosos afastados do centro. O pequeno traficante é a ponta do iceberg. Às vezes quando você entra na casa desses caras da até dó, porque é uma situação de miserabilidade.”.
Na luta contra o tráfico, o departamento atua em duas frentes, uma que analisa o macro, que são as grandes apreensões, como controle de fronteiras e cidades, e outra no micro, que correspondem aos pequenos traficantes. “Nós somos a parte de investigação, vamos nos atentar ao cara que fornece a droga para aquele que está na rua. Infelizmente a situação é um caso de saúde pública”, finalizou.
(Fonte: CampoGrandeNews. Foto: Divulgação)