Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS) está entre as instituições brasileiras de ensino superior que promovem ações afirmativas para candidatos autodeclarados transexuais, travestis e transgênero. A Pró-Reitoria de Pesquisa, Pós-graduação e Inovação (PROPPI) da Universidade aprovou a destinação de 5% das vagas para candidatos transexuais e travestis nos programas de Pós-Graduação da UEMS. A decisão garante que esses grupos tenham acesso à pós-graduação como incentivo à Visibilidade Trans na comunidade LGBTQIA+ de Mato Grosso do Sul.
Os candidatos aprovados devem apresentar no ato da matrícula, a título de comprovação do direito ao ingresso por essa ação afirmativa, um documento de autodeclaração, conforme Deliberação nº 306, da Câmara de Pesquisa, Pós-graduação e Inovação (CPPGI) do Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (CEPE). A Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul destina um total dez vagas para ações afirmativas entre os cursos de Agronomia, Letras, Matemática, Profissional em Educação e Recursos Naturais. A reserva das cotas para esses grupos é de responsabilidade dos cursos contemplados pelo sistema de ações afirmativas.
A professora de Língua Inglesa, Tattiana Alves Prado realiza curso de mestrado em Educação no campus de Paranaíba. Ela descobriu que podia ingressar na Pós-Graduação como cotista transexual por meio de informações compartilhadas por um amigo próximo. “Ele estava se inscrevendo e me incentivou a ingressar, pois as cotas para transexuais sempre ficavam sem candidatos”.
Tattiana Alves Prado explica que começou a se prostituir na adolescência para obter renda, por causa da dificuldade em conseguir um emprego formal. Ela é bolsista do Programa Institucional de Bolsas aos Alunos de Pós-Graduação (PIBAP) e a reserva de vagas para pessoas transexuais e travestis incentivou sua participação no processo seletivo da Pós-Graduação da Universidade Estadual. “Em nenhum momento fiquei com receio das cotas, pelo contrário, me incentivou”.
De acordo com a jornalista da Assessoria de Comunicação Social da UEMS (ACS), Gisleine Rodrigues, os programas de pós-graduação, Especialização, Mestrado e Doutorado, da Universidade Estadual utilizam a reserva de cotas em seus processos seletivos. As ofertas estão disponíveis nos campus de Aquidauana, Dourados, Cassilândia, Paranaíba, Campo Grande e Ponta Porã. “Na pós-graduação, a UEMS possui normativas de política de ações afirmativas que facultam aos cursos de pós-graduação lato e stricto sensu o oferecimento de sobrevagas para pessoas trans, sendo que deve estar previsto no edital de processo seletivo”.
A mestre em Antropologia e Arqueologia pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), Daniella Chagas Mesquita afirma que pessoas transexuais e travestis apresentam maior dificuldade em concluir o ensino médio devido as inúmeras agressões sofridas durante o processo de formação básica. Ela declara que as cotas contribuem para o acesso da população transexual e travesti ao ensino superior. “Pessoas trans tem uma grande dificuldade para entrar na universidade e, mesmo após a graduação ou pós-graduação, a dificuldade continua ao ingressarem no mercado de trabalho.”
A acadêmica do curso de Jornalismo da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS), Alice Sayada se interessou em realizar uma Pós-Graduação após se informar sobre as cotas na Universidade Estadual para pessoas transexuais. Ela acredita que tem mais chances de ingressar na Pós-Graduação por meio da ação afirmativa. “Eu só iniciei minha transição na faculdade. Ainda não consegui mudar meu nome por conta do valor que tem que ser pago na remissão de documentos, mas pretendo mudar isso antes da emissão do meu diploma. Por interesse, gostaria de entrar no mestrado de Políticas Públicas, Cultura e Sociedade da UEMS.”
(Com assessoria. Foto: Divulgação)