“Hoje a gente vai se divertir com a fotografia”, promete a fotógrafa Elis Regina, ao iniciar o primeiro encontro do projeto Nosso Olhar – Fotografia para a Cidadania, aprovado no edital 2019 do Fundo de Investimentos Culturais da Fundação de Cultura de MS. O projeto recebeu o recurso de R$ 63.634,40 do FIC.
Já na primeira aula, as crianças estão ansiosas, com seus olhares voltados para as ministrantes da oficina, Elis Regina Nogueira e Vânia Jucá. Vânia promete auxiliar as crianças a iniciar o processo de conhecimento para fazer boas imagens. “A gente vai exercitar o olhar pela observação da luz, usar elementos da linguagem para nortear essa composição e por meio de tudo isso fazer com que a criança tenha um olhar mais crítico ao meio em que vive. Não vai ser só apertar um botão”, explica.
Kauany Gabrieli Santos Leite, de 10 anos, estava bastante curiosa a respeito da oficina. “Minha mãe me falou que ia ter, daí eu quis participar, porque eu fico fotografando do meu celular coisas bonitas e fofas, como o meu irmão João, por exemplo”. Kauany ainda não sabe o que vai ser quando crescer, mas diz que adoraria, quem sabe, trabalhar com fotografia: “Ia ser tão legal fotografar as modelos, fazer uma novela, um desenho…”
Seu amiguinho Gustavo Rodrigues, também de 10 anos, estava bastante participativo. Procurava responder a todas as perguntas das professoras. “É muito legal aqui. Eu gosto de tirar fotos do celular da minha mãe, tiro foto de carinha de pessoas e coloco brilhos nas fotos. Daí eu coloco no Tik Tok e no Kawai. Eu tiro foto da minha irmã dançando. Aqui dentro do projeto a gente pode brincar”.
As oficinas estão divididas em faixas etárias. Serão 4 para crianças de 7 a 10 anos, durante todo o mês de agosto. Em setembro, será a vez das crianças de 11 a 15 anos participarem. A Associação Amigos de Maria, onde as aulas acontecem, fica na Rua Indianápolis, 2020, Jardim Noroeste. Ao todo, são 70 crianças participantes.
A fotógrafa Elis Regina diz que o FIC possibilitou a realização do projeto por meio do edital. “Quando abriu o edital do FIC em 2019 decidimos nos inscrever. Sempre trabalhamos com crianças carentes da periferia e que não teriam acesso a esse tipo de oficina. Um dos objetivos é orientá-los em como eles podem exercer a cidadania e atuar no bairro deles. É fundamental projetos como esse ser realizados, projetos de natureza sociocultural, que atinjam crianças da periferia. É preciso que haja editais todo ano, que aumente o valor, tem que ser da grandiosidade do nosso Estado. Imagina se todos os municípios do Estado tivessem projetos aprovados pelo FIC. O FIC precisa ser mais abrangente. Que venham mais recursos, mais editais”.
O exemplo da transformação proporcionada pela arte não está muito longe dali, e muito menos do projeto. Maurílio Aparecido Gomes de Lima, hoje com 31 anos, foi uma das quase 500 crianças que cruzaram os caminhos de Elis e Vânia, desde 2002, quando as primeiras oficinas começaram. Maurílio falou para as crianças nesta primeira aula, na tarde desta terça-feira (03.08.2021). “O projeto foi maravilhoso na minha vida. Eu era tímido, hoje sou despojado e bem aberto. As professoras me acolheram. Eu nasci na favela, no Tiradentes, cresci na favela e ainda moro lá. Não fui para o caminho errado, me sinto vencedor, queria uma coisa melhor para a minha vida e consegui. Fiz faculdade de Serviço Social, sou técnico em eventos e, estou cursando Gastronomia na UCDB e tenho um restaurante no meu bairro. Esta oficina com certeza vai ser uma oportunidade a mais na vida dessas crianças”.