O Governo do Estado, por meio da SED (Secretaria de Estado de Educação), vai produzir materiais didáticos para alfabetização e letramento de crianças indígenas nas línguas Guarani, Kaiowá, Kadiwéu e Terena. Com 80 mil indígenas, o Mato Grosso do Sul tem a segunda maior comunidade do Brasil.
A adequação linguística de material didático para as quatro línguas indígenas foi tratada no Seminário Integração “Alfabetiza MS Indígena”, uma ramificação do programa MS Alfabetiza, criado em 2021 e em prática na rede pública de ensino desde o início do ano passado.
O evento realizado esta tarde, no auditório da UEMS (Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul), em Campo Grande, reuniu lideranças indígenas do Pantanal e Cone Sul, além do secretário de Estado de Educação, em exercício, Edio Antonio de Castro, a secretária-adjunta da Setescc (Secretaria de Estado de Turismo, Esporte, Cultura e Cidadania), Viviane Luiza, e a diretora-presidente da Fadeb-MS (Fundação de Apoio e Desenvolvimento à Educação Básica de Mato Grosso do Sul), Maria Cecília Amêndola da Motta.
A previsão é de que, a partir do ano letivo de 2024, o material para alfabetização estará disponível nas respectivas línguas maternas – mencionadas – para as crianças do 1° e 2° ano do ensino fundamental, que estudam em unidades escolares indígenas (inclusive em aldeias urbanas).
“Nós vamos transformar todo material pedagógico na linguagem de cada etnia. No Estado temos principalmente Guarani, Kaiowá, Kadiwéu e Terena. Vão ter material específico e a partir deste momento vamos começar a escrever na língua deles. Além disso, o MS Alfabetiza também está sendo implantando para a matemática, a partir do ano que vem”, afirmou Castro.
O trabalho é um reconhecimento a língua e a cultura indígena, e vai auxiliar na preservação dos costumes dos povos originários. “No ano que vem a gente quer entregar para as crianças das aldeias um livro de língua portuguesa e um livro na língua que aquela criança vai ser alfabetizada”, afirmou Maria Cecília.
Morador da Aldeia Tereré, em Sidrolândia, o indígena terena, Otacir Pereira Figueiredo, que é pedagogo e presidente da Câmara Municipal, confirmou a importância de ações para valorização e preservação da língua e da cultura dos povos originários. “Este tema é de sua importância para as comunidades indígenas. É uma coisa que nos chama atenção, nosso trabalho nas aldeias é focado na questão da cultura, oralidade, língua materna e preservação identidade. Este é um momento importante de valorização, é um marco”.
O cacique da Aldeia Bananal, em Aquidauana, Célio Francelino Fialho, reconheceu a importância da ação. “É importante pois cada comunidade é diferente, tem sua peculiaridade. Na minha temos muitos falantes da língua na família, na escola e no trabalho. Mas tem aldeias próximas que não tem mais a língua Terena. É importante discutir estratégias para valorizar a nossa cultura”.
Importância internacional
Em dezembro de 2022, a ONU (Organização das Nações Unidas) lançou a “Década Internacional das Línguas Indígenas (2022-2032)”, evento realizado na sede da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura), em Paris (França).
Dados do Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais da ONU (DESA) apontam que os indígenas representam menos de 6% da população global, mas falam mais de quatro mil das, aproximadamente, de 6,7 mil línguas do mundo. Além disso, estima-se que mais da metade de todas as línguas serão extintas até o final deste século e este número pode ser ainda mais alto.
“Fortalecer a língua materna através da educação primária é realmente um grande favorecimento e importância nas comunidades indígenas, da valorização da língua. A língua é a oralidade dentro das comunidades indígenas, que é realmente a transmissão da cultura. Através dessa transversalidade entre educação, cidadania e cultura, nós percebemos então o fortalecimento das políticas públicas para todos, sem distinção de gênero, de raça, de etnia”, disse Viviane Luiza.
MS Alfabetiza
O programa “MS Alfabetiza – Todos pela Alfabetização da Criança” estabelece condições necessárias para que os estudantes matriculados nas redes públicas de ensino em todo o Estado adquiram o domínio das competências de leitura e escrita adequados a idade e ao nível de escolarização.