“Elóketi kaxéna kopénoti”. Em terena, a frase significa “Feliz Dia do Indígena”. Para ensinar tanto a pronúncia quanto a escrita, Eliel repete pelo menos três vezes cada palavra e acompanha a tentativa dos alunos em reproduzir.
A aula de terça-feira (18), véspera do Dia dos Povos Originários, começou com uma breve e profunda lição: “por que não falar índio?” questionava o professor na tela, logo após o cabeçalho “Língua Terena”.
“Por trás da palavra índio há vários preconceitos carregados, é como se o índio não tivesse conhecimento, fosse um povo primitivo e agressivo. Por isso devemos falar indígena, é este o termo que traduz quem somos nós como diversidade cultural”, explica Eliel.
Eliel Tiago Pio tem 31 anos, é professor de geografia e desde 2018 vem ensinando a língua materna pela internet. Toda terça, às 19h, ele se conecta da Aldeia Tereré, em Sidrolândia, e compartilha o link para quem quiser assistir em qualquer lugar.
São cerca de 50 minutos de fala, com a tela espelhada para um documento no word, onde Eliel explica as cores e forma frases de uso no cotidiano, como perguntar se você vem à minha casa amanhã ou se está chovendo aí.
A ideia de ensinar a língua terena nas redes sociais veio depois de um anúncio mostrar uma pessoa ensinando inglês de forma simples com o que se conversa no dia a dia.
“Eu estava pensando em que forma eu contribuiria para a minha comunidade. Aí eu vi e pensei: ‘por que não ensinar o terena’? Foi assim que iniciei com postagens no Facebook”, recorda.
As frases em terena logo ganharam compartilhamentos e mostravam a força do pertencimento das comunidades terenas, além da curiosidade dos não indígenas. E aquilo que outrora Eliel vira se perdendo, foi sendo reconstruído.
“Mostrar o trabalho que nós fazemos é muito importante para que outras pessoas possam conhecer como é a nossa cultura, nosso ensino, principalmente de língua terena, e também para desconstruir essa imagem estereotipada de que indígenas ficam apenas na aldeia, ali caçando pelados, sem fazer nada”.