Recenseadores do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) começaram a realizar as perguntas do Censo Demográfico em aldeias urbanas de Campo Grande. A primeira foi no Agrupamento Indígena Darcy Ribeiro, localizado no bairro Noroeste.
As comunidades urbanas são a grande maioria em Campo Grande, sendo 13 aldeias localizadas na cidade, contra duas na zona rural. De acordo com o último Censo, realizado em 2010, das 5.800 pessoas que se declararam indígenas no município, 5.687 moravam no perímetro urbano.
A analista censitária do IBGE, Thays de Souza explicou que a metodologia da pesquisa é diferente para as comunidades indígenas, mas no geral, as perguntas são as mesmas. As únicas que se diferem são em relação à etnia e a língua. Ou seja, caso o morador se declare indígena, ele será questionado sobre qual etnia pertence, como a terena ou guarani-kaiowá, e se fala alguma língua originária.
“Como a intenção do Censo é visitar todas as casas do Brasil, os indígenas com certeza fazem parte. Aí existem especificidades, por exemplo, perguntas com relação a etnia e aos idiomas, até pra demonstrar a pluralidade do pais, que fala o português, mas também tem várias línguas indígenas. Então também é importante para compreender como essa população vive, acesso ao saneamento básico, luz elétrica, acesso a educação, até para pensar em políticas públicas depois”, explicou Souza.
Antes das visitas rotineiras nas casas, as equipes também se reúnem com os líderes dos grupos, sejam caciques ou pajés, para explicar o intuito da pesquisa e pedir autorização para percorrer as aldeias, além de fazer perguntas relacionadas a estrutura das comunidades. No caso da Darcy Ribeiro, foi realizada reunião na semana passada com o cacique Abel de Almeida, que concordou com o Censo e permitiu que as visitas começassem no último fim de semana.
“A gente acha muito importante o Censo, porque aborda várias situações e aqui na nossa comunidade nós temos várias coisas que precisam ser trazidas para cá, área de lazer, saúde, rede de esgoto. Por isso é muito importante o IBGE tá fazendo esse tipo de trabalho. O pessoal é bem receptivo, a gente tem nosso grupo no WhatsApp, aí o pessoal fica ciente por lá. Às vezes um ou outro tá trabalhando, mas graças a Deus tem recebido a maioria”, ressaltou.
Recenseadora Graciely Góes de Almeida Vieira. (Foto: Kísie Ainoã)
A recenseadora Graciely Góes de Almeida Vieira, de 30 anos, é nutricionista por formação mas decidiu trabalhar no Censo para poder adquirir novas experiência. Ela é indígena e mora no bairro Noroeste, por isso, avalia que a população a têm recebido com maior facilidade.
“Os indígenas sempre foram esquecidos, às vezes eles se sentem pessoas esquecidas então precisamos explicar isso pra eles, que eles estão incluídos na pesquisa. Eu sinto que quando eu falo que também sou indígena eles me recebem melhor, ficam mais confortável, até para falar sobre a língua. Muitos indígenas que vivem em comunidades urbanas não falam a língua tradicional por vergonha, só falam em casa, e com isso ela vai se perdendo”, apontou Graciely.
O pedreiro Adilson Batista da Silva, 42 anos, é terena e recebeu a recenseadora Graciely na tarde de segunda-feira (29). Ao Campo Grande News, ele disse que não se mudou para Campo Grande quando ainda era criança, e não sabe falar a língua terena.
“Chega aqui e vai perdendo o costume de falar, só falo português. Mas tento resgatar a cultura pros meus filhos, sempre tem projetos na escola também”, relatou.
O que é o Censo? Previsto para acontecer em 2020, 10 anos após o último, o Censo é feito com dois anos de atraso em razão da pandemia de covid-19, além de cortes orçamentários.
Segundo o IBGE, o Censo é uma pesquisa realizada a cada década e “realiza uma ampla coleta de dados sobre a população brasileira e permite traçar um perfil socioeconômico do País”. As entrevistas para a construção do Censo deveriam ter sido feitas em 2020, mas foram suspensas por causa do início do período pandêmico do coronavírus.
Todas as informações coletadas são confidenciais, protegidas por sigilo e usadas exclusivamente para fins estatísticos, conforme estabelece a lei nº 5.534/68, lei nº 5.878/73 e o decreto nº 73.177/73.
Para identificá-los, os recenseadores estarão sempre uniformizados, com o colete do IBGE, boné do Censo, crachá de identificação e o DMC, que é um celular próprio para o trabalho. É possível confirmar a identidade do agente do IBGE no site Respondendo ao IBGE (respondendo.ibge.gov.br) ou pelo telefone 0800 721 8181.