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Droga é principal motivo para desaparecimento em Mato Grosso do Sul

Das 231 ocorrências registradas até junho deste ano, 70 trazem a dependência química como razão do sumiço

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Em Mato Grosso do Sul, 231 pessoas desapareceram entre janeiro e junho de 2022. Desse número, 70 tinham o uso de drogas como motivo. É o caso do jovem *Lucas, de 19 anos, encontrado nesta semana, em uma boca de fumo no Portal Caiobá, em Campo Grande. Ele estava desaparecido há 16 dias junto com um amigo, de 18 anos.

A mãe de Lucas, que não quis ser identificada, contou à reportagem que essa é a segunda vez que o jovem desapareceu por uso de drogas. Foi ela que o encontrou na “biqueira”. “Quando fui buscar ele na boca, eu vi o olhar dele pra mim, aquilo ali cortou meu coração, estava precisando de ajuda, estava com a mesma roupa há 15 dias”, lembrou.

Depois de encontrar Lucas, a mãe pediu para que ele fosse internado. “Não deu tempo de abraçar ele, mas falei ‘vai com Deus’. É muito sofrimento, é uma dor tão grande no nosso coração. Não sei se todas as mães sentem o mesmo, se você pensar bem, tem o momento de ódio, ele já me fez passar cada coisa. Mas eu não falava essas coisas pra ele.  A gente não pode desistir dos nossos filhos”, disse.

A descoberta da dependência do filho aconteceu há pouco tempo.”Fiquei sabendo que ele estava usando cocaína”. O que fez a mãe saber do problema químico de Lucas foi o comportamento anormal do rapaz. Segundo ela, Lucas ficava inquieto, se afastou da família, começou a mentir, dormia o dia inteiro e comia tudo. “Até falei que ia fazer exame nele, e ele negando por tudo que não usava nada. Acabei nem fazendo. Falei aquilo pra ver se ele me falava a verdade”, contou.

A mãe ressaltou que o filho é um menino de ouro, com um bom coração, brincalhão com os irmãos, mas que a droga roubou tudo dele. “O Lucas era muito vaidoso, cuidava dos dentes. Ele foi perdendo tudo isso. Gostava de roupa boa, tênis bom. Depois não ligava pra mais nada. Saía com a roupa amassada, não estava nem aí. Até o cabelo parou de cuidar. Isso tudo a droga tirou dele”.

Primeiro boletim –  A primeira vez que Lucas desapareceu foi em janeiro de 2022. A mãe chegou a registrar o boletim de ocorrência para relatar o sumiço. Ela não deu detalhes de quanto tempo o jovem ficou fora e como foi encontrado.”Eu queria poder ajudar todas as mães que sofrem com isso e poder internar os filhos, porque, infelizmente a gente não tem condição de pagar esse valor, não é valor baixo”, comentou.

A mulher diz que houve uma vez em que chegou a pedir que o filho seguisse o caminho dele e apresentou os destinos dessa escolha. “Eu bloqueei o numero dele do meu celular. Nessa hora ele chegou de moto implorando pra eu não deixar ele: ‘mãe não me deixa, eu só tenho você’, chorava de soluçar. Aquilo ali cortou meu coração e eu vi que não podia abandonar meu filho. Acredito que ele vai sair de lá um bom homem, porque ele é uma pessoa boa. Eu tento olhar além da droga, na pessoa em si. No olhar você sabe”.

Dados –  Os dados apresentados fazem parte do recorte parcial do Relatório de Pessoas Desaparecidas no Brasil, da Senasp (Secretaria Nacional de Segurança Pública), de janeiro a junho.

Conforme o documento, 190 homens sumiram, durante o período analisado, ou seja, correspondem a maioria dos registros, 82%. Dos 231 cidadãos que desapareceram, 183 deles foram encontrados com vida e seis em óbito. Entre outras razões que contribuíram, ou foram estímulo, estão as doenças patológicas mentais. Ao todo, 53 pessoas desapareceram devido a transtornos ou doenças degenerativas como mal de Alzheimer, 26 deles eram idosas.

O Delegado de Carlos Delano Gehring, da DEH (Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes de Homicídio), explicou que há motivações recorrentes nos registros de desaparecidos.

“Frequentemente tem alguma questão de patologia mental, pessoas que têm um histórico. Idoso que tem Alzheimer, saem e não lembram como voltar para casa; abuso de álcool e/ou drogas. Além disso, outro frequente é desentendimento familiar. Essa dinâmica de relacionamento inconstante é muito mais comum do que a gente imagina. A mulher que está com as crianças em casa vai fazer o que, achar que o marido morreu. Ela faz o certo, vai na polícia e registra o boletim”, pontuou.

Investigação – Delano conta como as investigações são feitas para tentar localizar os desaparecidos. “A gente dá um prazo de uns 30 a 45 dias para buscas, se a pessoa não aparecer, formalizamos um inquérito policial. Fazemos quebra de sigilo para ver o que aconteceu. Uma parte pequena aparece em óbito, alguns tem desaparecimento voluntário, que é quando a pessoa vai embora porque deseja.”comentou.

Delano acrescentou que aqueles que desaparecem por vontade própria são mais fáceis de serem localizados, devido ao uso de cartões, contas bancárias e uso do documento.

Ocorrências –  Ainda segundo o delegado, 98% das pessoas são encontradas vivas, e 85% ainda nas primeiras 72 horas. “Se tem alguém que a polícia aborda em uma situação estranha e checa o nome, vai constar que está desaparecida, se confirmado, isso legitima a ação do policial em levar a pessoa para delegacia para avisar a família. Mesmo os maiores de idade. O mero registro é uma grande coisa”. Ele evidenciou que

Nada substitui o registro do Boletim de Ocorrência. Não importa que divulguem nas redes sociais ou outros meios, tem que ser feito o registro”, explicou Delano.

Localizados – No período analisado pela Senasp, de janeiro a junho de 2022, foram localizadas 283 pessoas em Mato Grosso do Sul. O número não necessariamente corresponde aos boletins registrados em 2022, apenas indica que foram encontrados no período. O delegado da DEH acrescentou que durante a localização é comum que as possíveis vítimas se recusem a voltar, tampouco anunciar a localização aos familiares. “Se ele não quiser que a família saiba onde está não falamos. Acontece bastante, a pessoa fala pra gente: Só fala que eu estou bem”.

Aplicativo – Através do aplicativo Sinesp Cidadão, pessoas podem verificar a situação de roubo ou furto de veículos, mandados de prisão e lista de pessoas desaparecidas em todo Brasil. No aplicativo é possível filtrar consulta por faixa etária, região, período de desaparecimento e nome do desaparecido. As informações são consultadas diretamente do Sinesp, que integra registros de desaparecimentos realizados pelas Polícias Civis dos Estados.

Campo Grande – Conforme as estatísticas do Sigo, na Capital, os números registrados de 1º de janeiro a 19 de outubro apontam que dos 96 boletins de ocorrência foram registrados, 41 eram referentes a faixa etária de pessoas com 12 a 17 anos.

(Fonte: CampoGrandeNews. Foto: Divulgação)

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