Há um mês para o final das aulas, professores da rede municipal de ensino protocolaram um abaixo-assinado contra o fechamento das turmas de 8º e 9º ano da Escola Municipal Doutor Plínio Barbosa Martins. O documento foi deixado na Semed (Secretaria Municipal de Educação) na tarde desta sexta-feira (25) e contém mais de 1500 assinaturas.
Os docentes reclamam da falta de empatia da Secretaria em não comunicar previamente a decisão, tampouco se reunir com toda a comunidade, líderes sindicais e professores para debater os impactos da mudança na vida dos alunos e da famílias da região.
De acordo com o professor de história da unidade e representante sindical dos professores, Hugo Cezar Fernandes Gondin, de 29 anos, a escola conta com 11 turmas de 8º e 9º ano, juntas somam em torno de 400 alunos que serão remanejados para outras escolas municipais mais distantes, como a do bairro das Moreninhas, por exemplo.
“É muito ruim para essa comunidade, já que terão que sair do Los Angeles. Não tem sentido. Não haveria matrícula em 2023, que inclusive seriam de 12 turmas. A justificativa da Semed é de que tem muitos alunos no bairro e eles precisam atender mais os estudantes de 1º ao 5º ano”, disse.
A chateação dos professores vai além do fechamento das turmas, mas também engloba a mudança da dinâmica familiar dos estudantes. “Uma questão que estamos nos questionando muito é isso chegar no final do ano. É um impacto para essa comunidade e um impacto para nós. Então há um mês pra gente fechar o ano a gente está aí nessa situação, nesse impasse. E não é por falta de demanda. Nossas turmas são cheias de demanda com 35 a 40 alunos. Para nós professores é ruim, aqueles que fizeram o processo seletivo vão perder vagas e os concursados vão ter suas horas quebradas. Então é ruim para toda comunidade escolar”, pontuou.
A questão também mobilizou a presidente do residencial Ramez Tebet, Fátima Aparecida Gomes, de 60 anos. Para ela, a situação é preocupante e vai além da simples mudança de escola.
“O que está acontecendo é que a minha comunidade fomos pegos de surpresa. Essas crianças que vão perder a vaga na escola, muitas vezes a mãe sai de madrugada para trabalhar e deixa o filho responsável por levar o mais novo na escola. Muitos estudam no mesmo lugar por isso. Aqui em Campo Grande temos uma grande dificuldade de transporte, como vamos colocar esses estudantes, se já temos que levar trabalhador e os alunos que já usam o ônibus? Os alunos vão para as Moreninhas, Teotônio e Itamaracá”, pontuou.
Fátima ressaltou que a mães chegaram a procurá-la para desabafar sobre a mudança. “Eu como líder do bairro tenho que brigar pela minha comunidade. Teve mães que vieram falar chorando porque não sabiam como elas vão fazer para levar os filho na escola. Aí como fica, se ela sai cedo? Vai levar e perde o emprego? Então vai faltar comida na casa dela. A escola tem que tomar uma providência sim e a direção também”, frisou.
A presidente reafirmou que a indignação foi devido à maneira como a alteração foi comunicada, pois não houve tempo para que os pais se preparassem com a nova realidade.
“Muitas são mães solo. Esses meninos que vão para essas escolas longe, como vai ser? Isso é dar crédito para a rua adotar o filho dos outros. Essa decisão tem que ser tomada pelos pais, pela comunidade e professores. Eles não podem ir lá na periferia e tomar a decisão por nós. Colocamos eles lá para sentar com a comunidade e conversar”, finalizou.
A reportagem entrou em contato com a Semed para esclarecer o ocorrido e entender as circunstâncias em que o comunicado foi dito à direção da Escola Municipal Doutor Plínio Barbosa Martins, mas até o final dessa reportagem não obtive resposta.