Em uma ação pioneira no Brasil, Dourados terá vacinação em massa contra a dengue a partir de janeiro. O imunizante, fabricado pelo laboratório Takeda e denominado Qdenga, começa a ser distribuído em todas as UBS’s (Unidades Básicas de Saúde) no dia 3 de janeiro para ser aplicada à população com idade entre 4 e 59 anos, 11 meses e 29 dias.
De acordo com o secretário municipal de Saúde, Waldno Lucena, a concretização da aplicação das doses ocorreu após um documento encaminhado à fabricante colocando as características populacionais e dos casos da doença evidenciados na cidade. Todo o processo durou 16 dias.
“Encaminhei o pedido no dia 31 de agosto e, para minha surpresa, 16 dias depois veio a resposta que eles aceitariam [o laboratório]. Então, Dourados não foi escolhida, ela foi aceita [para a vacinação em massa]. Propusemos e o laboratório respondeu que tinha interesse em estudo observacional, que apoiaria a campanha”, comentou durante coletiva realizada na manhã desta sexta-feira (15/12) na sala de vacinação do PAM (Pronto Atendimento Médico).
Serão 300 mil doses que serão aplicadas duas vezes, com intervalo de três meses para uma população estimada em 150 mil pessoas. Além do imunizante ser repassado ao Município sem custo, a empresa fabricante ainda enviará insumos (seringas e agulhas) para a saúde pública local.
A vacina contra a dengue já é liberada pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e desde abril deste ano e comercializada em clínicas particulares, com custo unitário girando em torno de R$ 450.
Segundo o gerente do Núcleo de Imunização da Sems (Secretaria Municipal de Saúde), Edvan Marcelo Marques, a vacinação em massa servirá para efeito de comparação entre ciclos da doença no município, ou seja, será uma pesquisa de observação.
Atualmente, a inclusão dela no PNI (Plano Nacional de Imunizações) vem sendo debatida no país.
“Como todo e qualquer imunizante e medicamento, exige um certo tempo de pesquisa, encaminhamento. Há quatro anos já acontece a vacinação [contra a dengue]. São mais de 30 mil pessoas que receberam as doses pelo mundo. Países africanos e europeus. A vacina é segura nesse quesito. Quando a gente fala de pesquisa, nada mais é do que pegar os números que Dourados tem de dengue e comparar com os do próximo ciclo, na virada de 2024 para 2025, e ver quais serão os números no município antes e depois da vacinação”, esclareceu.
O prefeito Alan Guedes (PP) afirmou que além de todas as unidades básicas de saúde, a intenção da administração municipal é criar grupos volantes para atender setores da sociedade e disponibilizar o PAM para aplicações das doses nos contraturnos.
“A ideia é realizar as aplicações em todas as unidades básicas de saúde [incluindo distritos e reserva indígena], contraturno no PAM e depois, equipes volantes para atender comércio, indústria e outros setores”, disse.
Os horários seguirão os dos postos de saúde. Já no Pronto Atendimento Médico deve acontecer de segunda a sexta-feira entre 14h e 19h e aos sábados, entre 8h e 13h.
Aceleração
Para o coordenador do Núcleo de Vigilância Epidemiológica, Devanildo Souza, existe a preocupação para que o processo de vacinação seja acelerado diante do quadro da doença entre o final de fevereiro e o começo de março.
Estatisticamente, esse é o período onde a curva da doença atinge o pico no município.
“Estamos vivendo período de mudanças climáticas e isso ajuda na proliferação de insetos, entre eles o mosquito da dengue. E a dengue não vai dar trégua para a gente se não tomarmos uma medida. A vacina é uma das ferramentas mais importantes que temos nas mãos agora para combater essa doença. Importante lembrar que precisamos acelerar a vacinação em janeiro para que possamos ter o maior número de pessoas imunizadas até o final de fevereiro. Acompanhando os dados epidemiológicos a gente percebe que no início de março a curva eleva significativamente. Por isso a nossa preocupação em já começar no dia 3 de janeiro para acelerar esse processo e termos as pessoas já com a primeira dose ali no início de março”, finalizou.
Em 2023, cinco pessoas já morreram vítimas da doença em Dourados, segundo o mais recente boletim epidemiológico divulgado nesta semana pela SES (Secretaria de Estado de Saúde).
Os casos ocorreram em pessoas de idades variadas e sem comorbidades, por isso a vacinação no município não terá grupos prioritários. O imunizante não poderá ser aplicado no público composto por gestantes, lactantes e imunodeprimidos.