Economia

Como Porto Murtinho, Chaco paraguaio sai do isolamento com asfalto da rodovia Bioceânica

Reflexo dos anos de abandono, Boquerón tem apenas 80 mil habitantes, e sua capital, Filadélfia, 25 mil.

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Havia uma expectativa e uma inquietude entre os integrantes da caravana de onze prefeitos de Mato Grosso do Sul que estão viajando de carro até Antogafasta, no Chile, onde participam da segunda edição do Fórum Internacional da Rota Bioceânica: o que mudou no Chaco paraguaio, ao longo dos mais de 600 km entre as fronteiras com o Brasil e a Argentina, com os investimentos em infraestrutura rodoviária e melhoria da logística?

A exemplo de Porto Murtinho, por onde a missão técnica iniciou a jornada até o litoral chileno, a região semiárida do Alto Paraguai foi marcada pelo isolamento e caracteriza-se pela densidade populacional baixa. A pavimentação de 275 km de um total de 500 km, de Carmelo Peralta (fronteira com Porto Murtinho) e Loma Plata, no entanto, começa a mudar a economia local e transformar as pequenas cidades em pólos do corredor latino-americano.

Aos prefeitos do MS, governador de Boqueron, Dario Velasquez (ao centro) falou sobre os reflexos da Rota Bioceânica na região

Ao percorrer a rodovia asfaltada com tecnologia de ponta, pelo governo paraguaio, percebem-se as mudanças pontuais, como o aumento do pasto cultivado e instalação de silos. O governador do Departamento de Boquerón, Darío Radael Medina Velázquez, disse em encontro com os prefeitos sul-mato-grossenses que a agricultura se expande com tecnologia e a pecuária passou a investir em genética, resultados da facilidade de escoamento.

Centro logístico

“Com certeza, os tempos são outros e estamos muito confiantes em melhores dias para todos, com o aumento da produção, mais empregos e novos investimentos públicos e privados”, adiantou o governador. “Estamos habilitados para vender carne para a União Européia e o próximo mercado será o norte-americano. Também projetamos o trem de carga, há grupos interessados, e o Chaco será um grande centro logístico para o mercado asiático.”

Do lado brasileiro da fronteira, com o apoio do Governo do Estado, que investiu mais de R$ 100 milhões em obras estruturantes no município, a prefeitura de Porto Murtinho vem atuando na melhoria dos serviços e qualificação da mão de obra e na atração de novos empreendedores. “Fomos o fim de linha, hoje somos o portal da Bioceânica, preparando a nossa cidade para o desenvolvimento”, afirmou o prefeito Nelson Cintra.

Reflexo dos anos de abandono, Boquerón tem apenas 80 mil habitantes, e sua capital, Filadélfia, 25 mil. O asfalto da Ruta 15 (Rota Bioceânica), cruzando o Chaco até a fronteira com a Argentina, chegou à localidade de Loma Plata, distante 25 km de Filadélfia. O trecho de 87 km de Filadélfia a Mariscal Estigarribia está sendo restaurado e implantado pista dupla. Faltam 220 km até Pozo Hondo (Argentina), em licitação pelo governo paraguaio.

Marco histórico

Composta por 14 camionetes, o comboio dos prefeitos iniciou viagem à Antogafasta às 6h de sábado, transpondo o Rio Paraguai, entre Porto Murtinho e Carmelo Peralta, em balsa cedida pelo consórcio de empresas que está construindo a ponte internacional. A viagem foi tranqüila nos 275 km pavimentados até Loma Plata, numa rodovia dimensionada para grande fluxo de veículos. Antes, o grupo visitou as obras da ponte, no lado paraguaio, e o canteiro de engenharia.

Com a temperatura no Chaco aumentando – não chove na região há quase um ano -, percorrer os 220 km de terra até a fronteira com a Argentina foi um grande desafio para os prefeitos e equipe. Muita poeira (pó fino), dificultando a navegação viária, com a temperatura chegando a 48 graus, por volta de 15h30, e oscilando em 42 graus até às 20h, já em Tartagal, na Argentina, onde a caravana pernoitou. O desembaraço aduaneiro também demorou nos postos de controle

No caminho, o prefeito murtinhense Nelson Cintra mostrou aos seus convidados para esta viagem ao Chile, como presidente do Cidema (Consórcio Intermunicipal para o Desenvolvimento Integrado das Bacias dos Rios Miranda e Apa), o marco histórico instalado em 1996 entre as rodovias paraguaias que demandam a Argentina, Brasil, Chile e Bolívia. Em madeira da espécie Quebracho, o monumento sinaliza o início do movimento pró-Rota Bioceânica.

(Com assessoria. Fotos: Divulgação)

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