Política

Com 2ª maior população do País, MS fica em 5º lugar em candidaturas indígenas

Só 11 pessoas se consideraram descendentes dos povos originários no registro da Justiça Eleitoral

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Apesar de ter a segunda maior população indígena do País, o Mato Grosso do Sul fica em quinto lugar quando se analisa a representatividade dos povos originários nas eleições. De todos os 590 nomes registrados no sistema de candidaturas do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), apenas 11 pessoas se autodeclararam indígenas.

Até o único candidato ao governo colocado como indígena, Magno Souza (PCO) se autodeclarou pardo. “Eles perguntaram minha cor. Eu sou pardo, mas a minha etnia é Guarani”, justificou.

O terena e coordenador dos Assuntos Indígenas de Campo Grande, Nerio Kadosh, acredita que a falta de representatividade do seu povo se deve pela falta de união. “Existe muita divisão entre os indígenas. Precisamos da união de todos, o que de uma maneira geral não acontece no Estado. São poucos que se levantam para defender a causa indígena”, argumentou.

Ele tem conseguido unir as 23 comunidades indígenas da Capital, que totalizam cerca de 14 mil pessoas. Por isso, vê a presença de indígenas na política com otimismo. “Algo está começando a mudar. O pensamento tá mudando, porque temos indígenas formados e ocupado todas as áreas da sociedade. A curto prazo teremos um indígena eleito na esfera estadual.”

O historiador terena, Wanderley Dias Cardoso, doutor em educação escolar indígena, explica que a discussão política no Estado ainda não saiu da esfera municipal. “Esse nível de disputa ainda não chegou à discussão nas aldeias. Temos dezenas de vereadores eleitos. O que mostra que essa discussão municipal acontece. Talvez nesse espaço estadual e federal que não chegou falte estrutura de campanha para uma candidatura maior”, afirma.

Ele acrescenta que a representatividade dos povos indígenas precisa ser pautada. “Temos que entender o espaço político como um ponto de luta. É algo novo, até pouco tempo alguns povos entendiam que estar em um partido político não era legal, deslegitimava a causa”, revela.

Para o doutor em história, especialista em história do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, Paulo Esselin, as diferenças entre os povos são exploradas pelos políticos não indígenas. “Eles [indígenas] são muito divididos. Eles não conseguem reunir o grupo. Tem ainda a presença dos políticos não indígenas nas aldeias. Eles acabam contribuindo com essa falta de representatividade, porque usam os indígenas ao seu bel prazer. Com presentes. Desde o processo de colonização o que o branco sempre fez foi se apropriar desse processo de divisão.”

Já o cientista político, Daniel Miranda, avalia que a legislação eleitoral acabava fazendo essa seleção. “As candidaturas passam pelos partidos. Só que lá dentro dos partidos tem uma relação de poder e uma estrutura. Os povos indígenas por questões precárias, tem dificuldade para se representar dentro do partido. Ficam em situação desprivilegiada. O segundo ponto é que no Brasil quando os indígenas precisam que atendam suas demandas, tem os órgãos específicos. Ao contrário dos outros grupos sociais, já existe um órgão que tem esse objetivo. Talvez eles não sintam a necessidade de recorrer aos partidos, por terem o acesso ao Estado.”

O especialista acredita que não há como mudar esse percentual baixo de candidaturas indígenas. “A tendência dos partidos é conservadora e tem uma prática de reeleição, com taxa de renovação baixa. A médio e longo prazo não tem como mudar muito esse cenário. Só se houver mudanças na legislação eleitoral, como já estão fazendo. Só se houver regras que obriguem os partidos a incorporar os povos originários com algum percentual específico”, avaliou.

(Fonte: CampoGrandeNews. Foto: Divulgação)

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