A comitiva formada pelos cônjuges da delegação de Chefes de Missão Diplomática da União Europeia e Estados Membros Radicados no Brasil visitou a terra indígena Aldeia Limão Verde do povo Terena, em Aquidauana.
O grupo conheceu sobre a cultura indígena e assistiu uma apresentação cultural de dança, exposição de artesanato e feira orgânica.
A secretária-adjunta de Estado de Turismo, Esporte, Cultura e Cidadania Viviane Luiza da Silva acompanhou as esposas, esposo e filha dos embaixadores, que fazem parte da delegação em visita ao Mato Grosso do Sul.
Os Chefes de Missão Diplomática da União Europeia fazem uma visita oficial todos os anos a um dos estados brasileiros. O trabalho foi interrompido em 2020 devido a pandemia, e retomado após três anos. O Mato Grosso do Sul foi o estado escolhido para receber a importante iniciativa institucional para estreitar laços entre a União Europeia e o Brasil. O encontro visa aprofundar as relações econômicas, científicas, acadêmicas e comercias para atrair investimentos estrangeiros em diversas áreas no Estado.
A terra indígena Aldeia Limão Verde tem mais de 5,4 mil hectares e abriga aproximadamente 1,7 mil indígenas da etnia Terena que têm como principal atividade a produção agrícola familiar de itens como frutas, feijão e mandioca.
Durante a visita as lideranças da aldeia entregaram um relatório sobre as ações desenvolvidas na área e ainda sobre a necessidade de preservação, especialmente, da língua terena.
“A população indígena precisa preservar sua cultura, mas também atender as necessidades dos jovens que precisam estar inseridos na sociedade atual e possuem ambições. Temos necessidade preservar a língua, o meio ambiente e também precisamos de auxílio para garantir acesso a tecnologia, educação e saúde”, disse o coordenador pedagógico da Escola Municipal Indígena Lutuma Dias, Vanderlei Dias Cardoso.
“Apresentar a cultura Terena é sempre uma honra. Mato Grosso do Sul tem uma grande riqueza e diversidade, que também é representado pelo povo Terena. Fortalecer a língua materna através da educação primária é valorizar e preservar a história e cultura, desse povo que diariamente ajuda a construir o nosso Estado”, disse Viviane Luiza.
Emília Barros, 57 anos, é falante da língua Terena e vive na aldeia junto com filhos e netos – que são a sexta geração de membros da família nascidos no local. “A minha avó morreu com 115 anos e ela dizia que o pai dela já tinha nascido na aldeia, hoje tenho meus netos aqui, que ajudam a preservar a cultura por meio do artesanato. Eu fico muito orgulhosa e feliz. Mas eu não consegui ensinar a nossa língua pra eles, agora estamos tentando recuperar isso, para que eles aprendam também”.
O neto dela, Sulivan Barros Pereira, tem 24 anos e é o artesão da aldeia. Com trabalhos de confecção de roupas e adereços típicos, ele ajuda a preservar parte da história da etnia. “Eu produzo a partir de sementes de árvores como rosário, saboneteira e Pau-brasil. Muitas temos aqui, outras tivemos que plantar. Além disso, também uso penas das araras, mas só as que encontramos naturalmente, que caem das aves”.
Até mesmo o uso das sementes são lembranças para dona Emília. “Minha avó usava a casca da árvore da saboneteira para lavar roupa, e deixava bem limpinha, por isso tem esse nome. As coisas mudaram muito, hoje a gente tem uma alimentação diferente, vive diferente, mas podemos passar para as gerações futuras a cultura e que eles possam se orgulhar disso”.
Outra neta de Emília, Mayume Barros Tibério, 29 anos, incentiva a filha de 5 anos na dança seputerana, típica das mulheres e feita para realizar as boas-vindas aos visitantes. “Na escola elas aprendem a dança, língua e cultura. Mas é importante a gente incentivar. Eu quero que ela tenha este contato. Especialmente com a língua, porque hoje na aldeia os falantes são mesmos os anciãos e todos precisamos contribuir para preservar”.
O grupo formado pelas esposas, esposo e filha dos embaixadores da União Europeia também reconheceram a importância da visita. “Disseram que é a primeira vez que tantos estrangeiros, de países diferentes, vieram na aldeia. Mas nós, como pessoas de outros países também podemos contribuir para preservar, visitar, e dar a devida importância para os povos indígenas. É uma cultura rica e muito necessário garantir a continuidade”, disse Alexandra Costa, que é portuguesa e cônjuge do embaixador da Bélgica, Peter Claes.
Ação para preservar a cultura
No dia 18 de maio o Governo do Estado, por meio da SED (Secretaria de Estado de Educação), realizou o Seminário Integração “Alfabetiza MS Indígena”, uma ramificação do programa MS Alfabetiza, criado em 2021 e em prática na rede pública de ensino desde o início do ano passado. Na ocasião foi anunciada a produção de materiais didáticos para alfabetização e letramento de crianças indígenas nas línguas Guarani, Kaiowá, Kadiwéu e Terena. Com 80 mil indígenas, o Mato Grosso do Sul tem a segunda maior comunidade do Brasil.
A previsão é de que, a partir do ano letivo de 2024, o material para alfabetização estará disponível nas respectivas línguas maternas – mencionadas – para as crianças do 1° e 2° ano do ensino fundamental, que estudam em unidades escolares indígenas (inclusive em aldeias urbanas).
O trabalho é um reconhecimento a língua e a cultura indígena, e vai auxiliar na preservação dos costumes dos povos originários.
Importância internacional
Em dezembro de 2022, a ONU (Organização das Nações Unidas) lançou a “Década Internacional das Línguas Indígenas (2022-2032)”, evento realizado na sede da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura), em Paris (França).
Dados do Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais da ONU (DESA) apontam que os indígenas representam menos de 6% da população global, mas falam mais de quatro mil das, aproximadamente, de 6,7 mil línguas do mundo. Além disso, estima-se que mais da metade de todas as línguas serão extintas até o final deste século e este número pode ser ainda mais alto.
(Com assessoria. Fotos: Divulgação)